Investigações apontam que o Banco Master utilizou uma clínica médica em nome de laranja para inflar seu patrimônio e recebeu investimentos de fundos previdenciários. O controlador do banco, Daniel Vorcaro, foi preso, e as suspeitas envolvem manipulação de ativos, fraudes no mercado de capitais e gestão temerária. A situação expõe riscos para investidores e o sistema financeiro.

Fonte: UOL Economia
Clínica como fachada para inflar patrimônio
De acordo com uma ação judicial, o Banco Master injetou R$ 361 milhões em uma clínica médica em Contagem (MG), a Clínica Mais Médicos S.A., cujo capital social era de apenas R$ 700 mil. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) identificou a emissão de 13 notas comerciais pela clínica entre 2021 e abril de 2025, todas adquiridas pelo Jade Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, cujo único cotista é o Banco Master. A suspeita é que esse dinheiro não existe, e a dona da clínica atuaria como laranja para inflar o patrimônio do banco.
Investimentos de fundos previdenciários
Entre outubro de 2023 e dezembro de 2024, 18 fundos previdenciários de estados e municípios investiram R$ 1,876 bilhão no Banco Master. O Rioprevidência, do Rio de Janeiro, foi o maior investidor, com R$ 970 milhões. As aplicações foram realizadas em letras financeiras, que não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Confira a lista dos fundos previdenciários que investiram no Banco Master:
- Estado do Rio de Janeiro (RJ) — R$ 970 milhões
- Estado do Amapá (AP) — R$ 400 milhões
- Maceió (AL) — R$ 97 milhões
- São Roque (SP) — R$ 93,15 milhões
- Cajamar (SP) — R$ 87 milhões
- Itaguaí (RJ) — R$ 59,6 milhões
- Estado do Amazonas (AM) — R$ 50 milhões
- Aparecida de Goiânia (GO) — R$ 40 milhões
- Araras (SP) — R$ 29 milhões
- Congonhas (MG) — R$ 14 milhões
- Fátima do Sul (MS) — R$ 7 milhões
- Santo Antônio de Posse (SP) — R$ 7 milhões
- São Gabriel do Oeste (MS) — R$ 3 milhões
- Paulista (PE) — R$ 3 milhões
- Jateí (MS) — R$ 2,5 milhões
- Angélica (MS) — R$ 2 milhões
- Santa Rita D'Oeste (SP) — R$ 2 milhões
- Campo Grande (MS) — R$ 1,2 milhão
Prisão do controlador e investigações
Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, foi preso sob acusações de crimes contra o sistema financeiro nacional. A decisão judicial que autorizou a prisão cita a necessidade de “estancar” uma série de delitos praticados na gestão do banco. As investigações apontam para manipulação de ativos, desvio de recursos, fraudes no mercado de capitais e gestão temerária e fraudulenta.
“Não há dúvida sobre sua liderança nos atos de recalcitrância em disponibilizar ao mercado títulos de crédito, valores mobiliários e carteiras de crédito insubsistentes ou ‘podres’, emitidas por empresas de prateleira (fachada ou fantasma) controladas pelo Master e geridas por interpostas pessoas. Seu comando nesses comportamentos ilícitos é notório, já que exerce a presidência do Banco Master” - Juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília.
Outras irregularidades
O Banco Master também é acusado de fabricar carteiras de crédito falsas e vendê-las ao Banco de Brasília (BRB). Uma empresa de fachada, a Tirreno, teria sido utilizada para comprar créditos de dívidas de R$ 12,2 bilhões sem realizar qualquer pagamento, revendendo-os ao BRB. A suspeita é que o Master não pagou a Tirreno por falta de comprovação da existência dos créditos adquiridos.
O que esperar?
A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central, pode resultar na maior operação de ressarcimento a investidores da história do país. O FGC poderá ter que desembolsar até R$ 48 bilhões para ressarcir 1,6 milhão de credores do banco. As investigações continuam, buscando apurar a extensão das fraudes e responsabilizar os envolvidos. A situação levanta questionamentos sobre a supervisão de fundos previdenciários e a segurança dos investimentos no sistema financeiro.
A defesa de Daniel Vorcaro nega as acusações e afirma que ele estava a caminho de Dubai para se encontrar com os compradores do banco no momento de sua prisão.
Com a complexidade do caso e o envolvimento de diversas instituições financeiras, o desdobramento das investigações e os impactos no mercado financeiro serão acompanhados de perto.