Belém enfrenta calor extremo e COP30 discute futuro climático

Belém, a capital paraense, enfrenta um aumento alarmante de dias de calor extremo, impactando a vida de seus habitantes e colocando em pauta a urgência das discussões climáticas na COP30. A cidade registrou 212 dias de extremos de calor em 2025, liderando o ranking nacional e expondo as desigualdades climáticas que afetam principalmente as periferias e comunidades vulneráveis. Paralelamente, a COP30 avança em negociações cruciais sobre financiamento climático, transição energética e o papel dos países em desenvolvimento.
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Fonte: BBC

Calor extremo em Belém: um retrato da desigualdade climática

O aumento das temperaturas em Belém tem consequências diretas na saúde e no bem-estar da população, especialmente nas áreas mais pobres. Ronald Monteiro, de 15 anos, morador do bairro do Jurunas, relata a dificuldade de descansar e dormir devido ao calor intenso, que o impede de realizar suas atividades diárias. A capital paraense registrou uma temperatura máxima de 37,3°C, impactando diretamente a qualidade de vida de seus moradores.

O professor Everaldo de Souza, da UFPA, destaca que Belém teve, nesta década, 164 dias com temperatura máxima acima de 35,5ºC, um evento de calor extremo. Esse número supera a soma dos dias de calor extremo das últimas seis décadas. A redução da cobertura vegetal em aproximadamente 20% entre 1985 e 2023 agrava ainda mais a situação, intensificando o calor na cidade.

A voz dos jovens e a busca por soluções

Jovens como João Victor, o "João do Clima", e Ronald Monteiro, estão na linha de frente da luta contra as mudanças climáticas em Belém. João, que perdeu sua mãe para um câncer de pele possivelmente relacionado à exposição ao sol, se tornou um ativista e defensor de políticas ambientais que considerem as necessidades das periferias e ilhas da cidade.

"Eu digo que a gente está na mesma tempestade em barcos diferentes. Tem gente em iate, tem gente em rabeta e tem gente até sem barco." - João Victor, ativista climático.

Ronald, por sua vez, sente na pele os impactos do calor extremo em seu dia a dia, desde a dificuldade de dormir até a alteração na qualidade do açaí, alimento básico da região. Ambos os jovens esperam que suas vozes sejam ouvidas na COP30 e que medidas concretas sejam tomadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas em suas comunidades.

COP30: negociações avançam em meio a desafios

A COP30, sediada em Belém, representa uma oportunidade crucial para o Brasil e para o mundo avançarem na agenda climática. No entanto, as negociações enfrentam desafios complexos, como a definição de metas de financiamento climático, a superação de divergências entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e a garantia de uma transição energética justa e inclusiva.

Principais pontos em discussão

  • Financiamento climático: Países em desenvolvimento buscam um cronograma de pagamento para garantir que os países ricos cumpram as promessas feitas na COP29 de entregar US$300 bilhões anuais até 2035.
  • Medidas comerciais unilaterais: Alguns países em desenvolvimento reclamam dos impostos ou tarifas de carbono impostos sobre produtos verdes fabricados na China.
  • Lacuna de ambição: O objetivo central do Acordo de Paris de evitar o aquecimento além de 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais não será alcançado com as atuais tendências de emissões.

A importância da participação e da transparência

A COP30 também tem sido palco de debates sobre a transparência e a participação da sociedade civil nas negociações. A presença de lobistas da indústria fóssil na conferência tem gerado críticas e questionamentos sobre a influência desses grupos nas decisões climáticas. A inclusão de representantes de povos indígenas e comunidades locais nas discussões é fundamental para garantir que as soluções propostas sejam justas e eficazes.

A Aldeia COP, um espaço de encontro e diálogo na UFPA, tem reunido milhares de indígenas de diversas regiões do Brasil e do mundo, que compartilham suas experiências e demandas em relação às mudanças climáticas. A participação desses grupos é essencial para a construção de um futuro sustentável e para a garantia dos direitos das comunidades mais vulneráveis.

Próximos passos e perspectivas

À medida que a COP30 entra em sua semana decisiva, a expectativa é que os países consigam superar suas divergências e alcançar acordos ambiciosos que impulsionem a ação climática global. A urgência da situação, evidenciada pelo calor extremo em Belém e pelos impactos das mudanças climáticas em todo o mundo, exige um compromisso firme e uma colaboração efetiva entre todos os atores envolvidos.

O futuro climático do planeta depende das decisões tomadas na COP30. Belém, como sede da conferência, tem a oportunidade de se tornar um símbolo de esperança e de transformação, mostrando que é possível construir um futuro mais justo, sustentável e resiliente para todos.

As decisões de capa são documentos políticos escritos pela presidência da COP para “amarrar” o resultado final de uma conferência do clima. Elas funcionam como um texto guarda-chuva: não pertencem a nenhum item específico da agenda, mas sintetizam a mensagem política da COP e podem destacar temas que não foram totalmente resolvidos nas negociações formais. Na prática, são usadas quando a presidência quer dar um rumo geral à conferência, reforçar prioridades ou registrar compromissos que não cabem nas decisões técnicas.

O meteorologista Everaldo de Souza avalia que o problema do sono em bairros periféricos mais quentes em cidades como Belém é algo que ainda precisa ser estudado. Mas ele avalia que esse já é um dos desafios latentes na cidade. Na hora do sono profundo, a gente precisa diminuir a temperatura do corpo. Se o ambiente está muito mais quente, isso tem impacto no nosso sono. Várias noites mal dormidas vão ter efeito a longo prazo

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