Intoxicação por Metanol: PCC suspeito de desviar substância para bebidas

Após uma série de casos de intoxicação por metanol em São Paulo, autoridades investigam a possível ligação com o crime organizado. A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP) registrou nove casos em 25 dias, um número alarmante que foge dos padrões observados. A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) levanta a suspeita de que o metanol, importado ilegalmente pelo PCC para adulterar combustíveis, possa estar sendo desviado para a produção de bebidas clandestinas.

A Investigação e os Casos

O envenenamento de um grupo de amigos na zona sul de São Paulo, no final de agosto, acendeu o alerta sobre a origem das intoxicações. Uma das vítimas, um jovem de 27 anos, chegou a perder a visão e precisou de ventilação mecânica. A polícia apreendeu garrafas de gim em sua casa e na adega onde a bebida foi comprada, no bairro Jardim Guanhembú. Registros indicam que a compra foi feita na madrugada de 31 de agosto, em um pacote promocional que incluía gelo e energético. Cinco pessoas participaram da confraternização, e quatro precisaram de atendimento hospitalar. Duas mortes foram confirmadas pelo Centro de Vigilância Sanitária (CVS), uma na capital e outra em São Bernardo do Campo.

O Metanol e a Adulteração

A contaminação por metanol geralmente ocorre em casos de falsificação, onde a substância tóxica é adicionada para aumentar o teor alcoólico de forma mais barata. A médica Camila Carbone Prado, do Ciatox de Campinas, ressalta que essa hipótese só poderá ser confirmada após a análise das garrafas apreendidas. Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que, em 2022, o crime organizado obteve R$ 56,9 bilhões com a fabricação de bebidas falsificadas, superando o faturamento da Ambev. Facções como o Comando Vermelho e o PCC estariam envolvidas nessa produção ilegal.

Suspeitas da ABCF

A ABCF suspeita que o metanol usado nas bebidas adulteradas seja o mesmo importado ilegalmente pelo PCC para adulterar combustíveis. A entidade ressalta que o fechamento de distribuidoras ligadas ao crime organizado pode ter levado a facção a revender o metanol para destilarias clandestinas. Segundo a ABCF, nunca houve tantas denúncias de bebidas falsificadas como nos últimos dois anos. A associação tem uma reunião marcada com o Gaeco para discutir o assunto.

Recomendação do Ministério da Justiça

O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) emitiu uma recomendação urgente a estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas em São Paulo e regiões próximas. A medida visa orientar a adoção de medidas de compra segura, verificação rigorosa dos produtos e fortalecimento da rastreabilidade das bebidas comercializadas. Preços muito abaixo do mercado, lacres tortos, erros de impressão e odor de solventes são sinais de alerta. Em caso de sintomas como visão turva, dor de cabeça intensa ou náusea, a orientação é procurar atendimento médico urgente e acionar o Disque-Intoxicação (0800 722 6001).

Impacto e Próximos Passos

A ABCF estima que o setor de bebidas foi o mais prejudicado pelo mercado ilegal no último ano, com perdas de R$ 88 bilhões. A entidade defende a retomada do Sicobe, sistema de controle de produção de bebidas, para combater a atuação do crime organizado. A investigação sobre a origem do metanol e a extensão da rede de distribuição das bebidas adulteradas continua em andamento, com o objetivo de responsabilizar os envolvidos e proteger a saúde dos consumidores. Será que a retomada do Sicobe seria um golpe fatal nas ações do crime organizado?

A Polícia Civil continua investigando os casos e apurando os fatos para identificar os responsáveis pela comercialização das bebidas contaminadas e como o metanol chegou até elas. As autoridades sanitárias reforçam a importância da população estar atenta aos sinais de alerta e denunciar qualquer suspeita de irregularidade.

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